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Estava eu no banho a pensar nas minhas músicas e mais uma vez a pensar que há no mundo demasiadas canções de amor e que devia haver mais músicas sobre outras coisas quando decidi: tenho de fazer músicas sobre outras coisas.
E pensei: do que é que eu gosto?
E respondi a mim mesmo: bananas. Não sei porquê, mas foi assim que aconteceu, foi a primeira coisa que me veio à cabeça.

Não é totalmente aleatório, porque a verdade é que já há muitos anos atrás eu tinha feito músicas sobre goiaba, sobre salada de fruta e sobre o funcho; como sou um gajo extremamente básico, só me lembro destas coisas simples acerca das quais poderia fazer canções. E então lembrei-me da banana um pouco no seguimento dessas outras coisas.
Não sou de fazer grandes declarações políticas e sociais revolucionárias, nem de divagar em forma de canção sobre os grandes temas da vida.

Mas então continuei a pensar, enquanto esfregava champô no cabelo. O que é que se pode dizer acerca duma banana?

Amarela. Curva. Fácil de comer.
Imediatamente a melodia me veio à cabeça para se juntar às três características que imediatamente associei à banana.
Aliás, imediatamente me veio a melodia de estrutura de cinco notas a descer de todo o refrão, se é que podemos chamar-lhe isso, aquela secção que utiliza dados de 2019.

Mas imediatamente também pensei no significado mais ordinário da expressão «comer», o que me fez imediatamente pensar, na minha disposição bem humorada, que isto poderia ser afinal acerca de alguém com a pele de tonalidade amarelada, com alguma espécie de curvatura na coluna e que fosse muito liberal com a sua sexualidade.
Aquilo que me veio à cabeça inicialmente foi uma prostituta chinesa com escoliose, mas achei isso ligeiramente xenófobo e politicamente incorrecto.
Desisti inicialmente da canção.

Mas estava a achar piada à ideia da canção, pelo que me ficou em mente durante um ou dois dias.

Mais tarde lembrei-me de que há doenças que fazem com que a pele fique amarela, e não há tanta preocupação com a estigmatização ou estereotipagem de pessoas com doenças na nossa sociedade – embora obviamente devesse haver – como há com as de pessoas de etnias e culturas diferentes, pelo que imediatamente voltei a considerar a canção.
Lembrei-me dos problemas de fígado e da icterícia, mas isso não enquadrava tão bem na estrutura da ideia inicial de continuar a letra dizendo que «não, não é uma prostituta chinesa com escoliose, é antes uma fruta deliciosa que contém frutose» (o que já rimava lindamente).
Fui fazer a minha pesquisa e encontrei o termo «bilioso», um termo algo antigo utilizado para descrever pessoas com a tez amarelada por «excesso de bílis».

As coisas começaram a encaixar maravilhosamente e eu fui ajustando aqui e ali até tudo encaixar da forma mais agradável possível.
Primeiro vamos retirar a «frutose», porque antes já falei de fruta e falar de frutose logo a seguir parece fácil e óbvio demais. Com um pouco de pesquisa descobri que na verdade a banana até tem mais sacarose do que frutose, e pareceu-me que seria muito ligeiramente menos óbvio que uma fruta contivesse um açúcar que não a frutose, que pelo menos não dizia outra palavra da mesma família semântica.
Depois vamos alterar a palavra «deliciosa», porque tem sílabas a mais e não fica muito bem na métrica e tem uma sílaba só de uma vogal, o que dificulta logo o encaixe na métrica. Hmmm… saborosa! Mesma coisa! Sinónimo! Mas só com sílabas certinhas de consoante-vogal! Perfeito.
E agor… alto lá…
Que é isto? Está aqui a aparecer uma bonita rima interna! As coisas estão a alinhar-se muito bem! Podia tentar rimar a prostituta com a fruta, a biliosa com a saborosa, e depois então a previamente estabelecida escoliose com a sacarose!! Lindo!

Agora só falta talvez arranjar aqui maneira de encher espaço para a sílaba tónica da fruta coincidir na mesma altura da frase musical com a sílaba tónica da prostituta, e talvez aproveitar isso para sublinhar a contraposição daquilo a que nos estamos a referir com aquilo a que não nos estamos a referir, portanto vamos começar um verso com «não, não é isto» e o outro com «é antes aquilo»… mas talvez «não, não se trata disto» e «sim, trata-se antes daquilo».

Está bom, siga! Continuando!

O resto da letra saiu-me de forma relativamente fácil, porque são todas formas como efectivamente consumo ou sei que podia consumir bananas e é a minha preocupação de alguém que tenta ter atenção à sua alimentação e um trocadilho do senhor do anúncio dos Ferrero Rocher com a delícia dos deuses gregos (eu fiz pesquisa e sei que não é «ambrósia» mas sim «ambrosia», que ninguém me acuse de não fazer pesquisa). Talvez não tanto com a parte dos dados de 2019, que obviamente teve de ser pesquisada.

No final da canção sentia um vazio, como também tantas vezes sinto nas minhas canções.
O meu instrumento de eleição é de facto a voz, que levo sempre comigo para todo o lado, e se ouvirem este álbum todo de seguida irão perceber que há muita voz, talvez até demasiada voz, que quase parece que não dá descanso ao ouvido. Mas sinto sempre necessidade de encher o espaço, sinto que pode tornar-se aborrecido para o ouvinte estar só a ouvir acompanhamento de guitarra sem coisa alguma por cima, até porque não toco guitarra com grande perfeição. Portanto no final comecei a acrescentar algum cantarolar anasalado, alguns «lálálás» ou «nananas» e… ah! Ba-na-na!
E o cantarolar anasalado quase soa ao som que fazemos quando gostamos muito de uma comida!

Ó! Perfeito!

Mais uma «Masterclass» de composição de letras para música! ®

lyrics

Amarela, curva, fácil de comer:

não, não se trata de uma prostituta biliosa com escoliose;
sim, trata-se antes de uma fruta saborosa que tem sacarose.

É bom comê-la com manteiga de amendoim
em vez de andares a enfardar em bolas de Berlim.
Com queijo num papo-seco é um deleite dos deuses,
«ó “Ambrósio”, traz-me lá essa “ambrósia”»

amarela, curva, fácil de comer,
importada de onde está sempre calor.
É a Índia o seu maior produtor,
mas maior exportador é o Equador.
(dados de 2019)

Podes botá-la na salada ou nos teus cereais;
fazer papinhas de aveia com banana é demais!
Já ouvi dizer que dá para fazer um gelado
que é só banana toda esmagadinha!

HmmMmm, banana, banana
HmmMmm, banana, banana
Hmmmmm, banana, banana
HmmMmm, banana, banana

credits

from N​ã​o é remela, é o brilho dos meus olhos, track released May 29, 2020

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Ruben David Marques Leiria, Portugal

Ruben David Marques é um artista que desafia rótulos. Ainda no outro dia o vi refilar com o duma garrafa de refrigerante.

Nunca resiste a descolá-los.

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