O meu amor por trocadilhos – a ferramenta pouco sofisticada dos Fernandos Mendes desta vida – está em destaque nesta canção, como em tantas das outras.
No Instagram por vezes é necessário carregar nos vídeos para que a aplicação passe o som, portanto começo por pedir ao ouvinte que, se vir a minha fronha (no Instagram), carregue em mim para me ouvir. No entanto, como não refiro o Instagram no resto da letra, pode parecer que estou a pedir ao ouvinte que carregue em mim se me vir na rua, o que é algo inusitado e despropositado e para mim tem piada porque sou tolo e imaturo.
Continuo por pedir que o ouvinte carregue em mim duas vezes, o que ao vivo seria talvez duplamente – ou talvez igualmente – disparatado, como é óbvio, enquanto que no Instagram significa que o ouvinte deixava um coraçãozinho na minha publicação de um vídeo em que eu estava a cantar uma canção, porque é isso que acontece quando se toca duas vezes na imagem de uma publicação do Instagram e é isso que se deseja que os outros façam às nossas publicações.
«Ou uma no coração», o que no Instagram tem o mesmo efeito que carregar duas vezes na imagem, mas ao vivo tem efeito talvez mais desconcertante, agressivo ou talvez mais doce, dependendo da força e forma como o ouvinte carregasse no meu coração. Naturalmente que não directamente no coração, porque isso seria talvez menos prático e ainda mais desconcertante, mas na pele imediatamente por cima dele, com intuito simbólico.
Procedo aparentemente sugerindo que o ouvinte carregue algo num avião e mande.
Ah, não: estou a falar do símbolo do avião de papel no Instagram que tem a função de partilhar! Ah, o trocadilho da palavra «carregar» ou da expressão «carregar no avião»… tão bom.
A ideia é que o ouvinte partilhe a minha publicação com outras pessoas, que mande a minha publicação para elas para que também elas carreguem em mim duas vezes, ou uma no coração. No Instagram. Na rua por favor não me façam isso. A sério. Por favor. Não.
A não ser que sejam moçoilas jeitosas, aí façam como o Benfica e carreguem! Ou como os touros! (Lá chegaremos.)
E que outra coisa se quer que façam no Instagram? Comentários, como é óbvio!
Daí que utilize a excelente oportunidade que criei para mim mesmo com a utilização da palavra «manda» na expressão «carrega no avião e manda» para lhe juntar uma insinuação da expressão «manda-me para o caralho» que depois afinal, por truque musical pouco original, acaba por ser cortada e substituída pela expressão prévia «carrega em mim», já que a última palavra da primeira partilha a primeira sílaba com a primeira da última.
É que um comentário é um comentário, não interessa se é negativo. O algoritmo só quer saber da estatística, não lhe interessa muito o conteúdo, e uma publicação com muitos comentários é melhor que uma com poucos. Os comentários são como a publicidade, não há maus.
Estás a ver como é esperta a minha letra?! E imatura!?
O Fernando Mendes teria orgulho em mim.
Se soubesse usar o Instagram.
No final, o ouvinte parece ter-me respondido «o diabo que carregue em ti!», ao que eu respondo «não, o diabo ME carregue a mim!» Para uma carreira de sucesso como cantautor, por exemplo, como fez com o Robert Johnson! Ou então para os números do Euromilhões.
Diabo: se me estás a ouvir, prefiro a segunda, ok? A primeira dá trabalho.
Este álbum esteve para chamar-se «Piscina infantil», porque sinto, como já partilhei com amigos, que as minhas letras são como a piscina dos miúdos: pouco profundas. «Dão para molhar os pés e o rabinho e pouco mais», foi o que eu acrescentei.
Mas pronto, as letras profundas também se tornam cansativas. Não é bom de vez em quando termos uma música que não está a tentar levar-nos numa viagem pelo tempo e o espaço, ou que nos força a pensar nas coisas sérias e importantes da vida?! Às vezes é bom simplesmente ouvir trocadilhos e achar piada e não ter de pensar muito mais nisso, não é?
Espero que sim, que se não estou bem tramado. ®
lyrics
Se me vires, carrega em mim!
Se me vires, carrega em mim
E ouve-me!
Carrega em mim duas vezes!
Carrega em mim duas vezes
Ou uma no coração!
Carrega no avião e manda!
Carrega no avião de papel ou manda-me
Para o car…
… rega em mim,
Carrega em mim.
O diabo que carregue em mim?
O diabo ME carregue a mim!
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