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N​ã​o trabalho mas tenho calos (A cigarra e a formiga)

from N​ã​o é remela, é o brilho dos meus olhos by Ruben David Marques

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Eu já andava com a ideia da cigarra e da formiga na cabeça havia alguns dias, mas não sabia como utilizá-la sem ser demasiado metafórico e pesadão, «heavy-handed», como diriam os anglófonos.

Eu sinto-me um pouco como a cigarra dessa história. Na verdade sou um calãozinho, só quero é fazer o que me apetece quando me apetece, e isso é geralmente pouco. De certeza que não me apetece andar a apanhar grão a grão para poder comer no inverno sem ir para o frio da rua. Prefiro ficar em casa o ano inteiro a fazer um desenho de vez em quando, uma música de vez em quando, a ver séries que já vi vinte vezes, e sair só para ir esticar as pernas.

Eu sou um parasita, é o que eu estou aqui a dizer.
Mas também tenho direito à vida, sei lá.
Acho eu.

Sempre senti a noção de trabalhar para sobreviver como agressiva. Uma vez até disse a alguém que achava que «trabalhar para (sobre)viver é como cagar para limpar o cu».
A própria noção de trabalho como geralmente a utilizamos é-me algo agressiva. Para mim trabalhar é mau, e viver de ordenado em ordenado não só não dignifica a pessoa como activamente contrai a pessoa, no seu potencial, no seu crescimento.

Só que falar disso tudo com a metáfora da cigarra e da formiga é aborrecido e moralista demais, soaria a sermão, e quando se escolhe dar-se um sermão é bom que se tenha perfeita e total confiança nesse sermão e que se tenha soluções para a questão, tudo coisas que eu não teria.

Mas num outro belo dia mais tarde pus-me a pensar nos calos com que estava a ficar nos dedos, de tanto tocar guitarra, que estavam todos a pelar e até perdi sensibilidade nas pontas dos dedos. E a olhar para as pontas dos dedos da mão esquerda fiz a associação dos calos ao trabalho e lembrei-me da minha posição em relação ao trabalho e de como não tenho emprego e, como tal, não trabalho, e achei curiosa a contraposição: quem trabalha ganha calos (aquelas pessoas que têm trabalhos fisicamente duros, claro), mas aqui estou eu, com calos e sem «trabalhar».

Claro que o trabalho é uma noção Física, e nesse sentido tocar guitarra só para mim no meu quarto é trabalho: é por isso que tenho calos. Exerci trabalho efectivo.
Só que isto não é considerado «trabalho» pela sociedade em geral.

Não trabalho, mas tenho calos.

Não sei exactamente como associei esta ideia à da cigarra e da formiga, mas estão obviamente relacionadas. Embora pareçam totalmente díspares, referem-se à mesma coisa, pelo que é natural que tenha feito essa associação.

Mas a beleza da associação destas duas ideias é que a primeira, sozinha, poderia parecer agressiva, moralista, enfadonha, ofensiva; mas combinada com a segunda transforma-se nesta confissão que é um suplício que carrego comigo muito mais do que essa noção agressiva em relação ao trabalho e à obrigação que ele representa.

Basicamente: prefiro pedir compreensão e paciência a virar-me definitivamente contra o consenso. Porque sou um coninhas.

Agora, porque é que fiz esta canção a imitar o Zeca Afonso?
Acho que terá sido o simples facto de ter aquela frase inicial e de a querer repetir, e talvez a ideia da cigarra e da formiga também me remeta para o Zeca Afonso.

Pensando bem, as questões da justiça social e dos direitos dos trabalhadores também se poderão associar facilmente à obra dele, portanto faz sentido.

Aaaaah… «A formiga no carreiro»… pois é.

Fiz esta canção a mais cara do álbum aqui porque gosto da ironia.
É ironia? Não sei bem. Mas achei adequado. ®

lyrics

Não trabalho, mas tenho calos.
Não trabalho, mas tenho calos.
Sou cigarra e tu formiga,
Que entre nós nunca haja espiga.

Não trabalho, mas tenho calos.
Não trabalho, mas tenho calos.
Deixa cantar-te uma cantiga,
Esta é nova e esta antiga.

Não trabalho, mas tenho calos.
Não trabalho, mas tenho calos.
No verão encho a barriga,
No inverno sê minha amiga.

Não trabalho, mas tenho calos.
Não trabalho, mas tenho calos.
Sou cigarra de pouco alento,
O teu ouvir p'ra me dar talento.
O teu ouvir p'ra me dar talento!

Não trabalho, mas tenho calos
Não trabalho, mas tenho calos
Não trabalho, mas tenho calos
Não trabalho, mas tenho calos
Não trabalho, mas tenho calos
Não trabalho, mas tenho calos…

credits

from N​ã​o é remela, é o brilho dos meus olhos, track released April 22, 2020

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Ruben David Marques Leiria, Portugal

Ruben David Marques é um artista que desafia rótulos. Ainda no outro dia o vi refilar com o duma garrafa de refrigerante.

Nunca resiste a descolá-los.

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